quinta-feira, novembro 27, 2008

LÁGRIMAS DA VIDA

Se tu souberas que lembrança amarga
Que pensamento desflorou meus dias,
Oh! tu não creras meu sorrir leviano,
Nem minhas insensatas alegrias!

Quando junto de ti eu sinto, às vezes,
Em doce enleio desvairar-me o siso,
Nos meus olhos incertos sinto lágrimas...
Mas da lágrima em troco eu temo um riso!

O meu peito era um templo — ergui nas aras
Tua imagem que a sombra perfumava...
Mas ah! emurcheceste as minhas flores!
Apagaste a ilusão que o aviventava!

E por te amar, por teu desdém, perdi-me...
Tresnoitei-me nas orgias macilento,
Brindei blasfemo ao vício e da minh’alma
Tentei me suicidar no esquecimento!

Como um corcel abate-se na sombra,
A minha crença agoniza e desespera...
O peito e lira se estalaram juntos...
E morro sem ter tido primavera!

Como o perfume de uma flor aberta
Da manhã entre as nuvens se mistura,
A minh’alma podia em teus amores
Como um anjo de Deus sonhar ventura!

Não peço o teu amor... eu quero apenas
A flor que beijas para a ter no seio...
E teus cabelos respirar medroso...
E a teus joelhos suspirar d’enleio!

E quando eu durmo... e o coração ainda
Procura na ilusão tua lembrança,
Anjo da vida passa nos meus sonhos
E meus lábios orvalha d’esperança!


Álvares de Azevedo 

2 comentários:

Silvano Neto disse...

Gosto de A.Z., concordo com ele que morrer de amor é melhor que morrer na guerra, mas morrer de amor sem tocar na mulher não rola dôto!
Mulher tem de se idolatrada sim, mas do meu lado e não em cima de um pedestal como os Romancistas faziam...
Mas que o cara escreve pra caralho isso eu não discordo hehehe!

D disse...

Caro Ark

Como já tive provas do que é seu ponto de corte para mulheres e escuto piadinhas e comentários terríveis que versam sobre esses seres, não me admiro com esse poemas tão "ela é intocável".

^^

Prefiro as coisas trevosas de Álvares de Azevedo.