segunda-feira, agosto 24, 2009

Marcha dos Mortos

Rodando pela intrenet tentando relaxar um pouco achei um video de uma banda que respeito bastante, pelas suas letras inteligentes com bom humor e críticas bem diretas a situações revoltantes, pena que nao é quase reconhecida por nao aceitar certos parametros da industria musical.

sábado, junho 13, 2009

quinta-feira, junho 11, 2009

terça-feira, maio 12, 2009

VALSINHA

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Vinicius de Moraes e Chico Buarque

quarta-feira, abril 29, 2009

terça-feira, abril 14, 2009

Engraçado como as coisas vão tomando rumo... Antes, sentia insonia por motivos diversos, alguns meio bobos e outros bem preocupantes, mas o atual é sentir falta da compania de uma pessoa extremamente adoravel... Mas coisas pessoais nao vem ao caso nesse post, afinal passei esse minha solidao noturna refletindo sobre como existem seres humanos parasitas... E a frase que mais me revoltou em todo processo, foi a que escutei de uma criatura que me pertubava pedindo cola em uma prova de calculo II, e quando fui indagado sobre quais questoes eu tinha feito ele me solta um "SÓ ISSO??", em consideraçao a minha ignorancia no assunto visto que a mesma criatura, apenas havia assinado porcamente seu nome na folha de questoes e eu havia feito apenas 3 questões. Eu vou mudar minha postura em Calculo III, afinal tenho que dar o primeiro passo pra o extermínio desses parasítas que me cercam...

terça-feira, março 31, 2009

Ansiedade

Sentimento estranho, e por muitas vezes desagradável, que geralmente segue junto a inquietação sendo resposta a uma ameaça que pode ser desconhecida ou não... O fato é que, a minha me fez fumar um cigarro e após isso um sentimento de calma transbordou meu corpo. A muito não fumava pois me sentia em paz, só que hoje... Apenas hoje... Eu me senti meio que perdido e acabei recorrendo ao "conselheiro solitário"...

domingo, março 15, 2009

CRÔNICA DA LOUCURA
 
 
O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra.
 
Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou. Durante quarenta anos, passei longe deles.
 
Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
 
O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco. Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura.
 
E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses. Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um 'consultório médico', como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu. Senão, vejamos: Na última quarta-feira, estávamos
1. Eu,
2. Um crioulinho muito bem vestido,
3. Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.
 
Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
 
2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para leva-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio do 'Harmonia do Samba'? Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
 
3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável Como era infeliz esse meu
 personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.
 
4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora? Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.
 
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista. Conto para ele a minha 'viagem' na sala de espera. Ele ri. Ri muito, o meu psicanalista, e diz:

 - O Ditinho é o nosso office-boy.
 - O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
 - E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.

 E você, não vai ter alta tão cedo...


Luis Fernando Veríssimo

quarta-feira, março 11, 2009

Engraçado... Quando eu sinto que estou feliz com o rumo que minha vida anda tomando, alguma noticia triste me coloca pra baixo. Sei que não deveria me deixar abalar com isso mas, infelizmente mexeu bastante, ao ponto de pensar que não consigo ter um momento de calmaria em minha vida. Por mais que me digam pra não me preocupar, eu não consigo... E fico mais triste ainda em saber que quanto mais faço planos pro meu futuro, mais pedregoso o caminho vai se tornando... afinal tudo começou com um refluxo, e bem bolando morro abaixo como uma bola de neve... Sinto que ate o presente momento eu posso classificar o ano de 2009 como o melhor ou o pior ano da minha vida, pois vai depender muito de resultados de exames...

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

"Aquele que reprime os ímpetos da cólera estará a coberto de qualquer perigo. É conveniente saber sufocar, ou ao menos moderar a cólera, o temor, a tristeza, a alegria, e outras agitações profundas que podem alterar a rectidão da alma"
Confúcio

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Engraçado como quando estamos felizes, qualquer besteira passa batido sem causar o mínimo de dano... Percebi isso hoje a noite, quando o meu normal seria soltar alguma piadinha sarcástica, ao simples escutar de alguma asneira oriunda de pessoas a qual não considero mentalmente espertas... Percebi também que o tempo passa voando, e que pouco me importava as palavras do professor fazendo um resumo de momentos "brilhantes" da turma sobre os motivos das colonizações dos povos europeus, afinal, posso agradecer a Reimberto pelas belíssimas aulas de histórias e da criação de um senso analítico sobre vários fatos, que me pouparam o trabalho de ficar maquinando alguma colocação para o assunto e ignorar aquele momento cômico de ignorância quase coletiva, onde a figura a frente da sala tentava com todas as suas forças fazer com que a maioria dos "macacos de circo" sentados nas cadeiras entendessem sobre o assunto... Mas deixando as farpas de lado, enquanto o professor citava um trecho de Fernando Pessoa e confudia com Camões, displicentemente olhava para o celular e me lembrei de outro professor na época de colégio, o professor Carlos Augusto, que brigava comigo pelo meus erros de português e me forçava a escrever algumas linhas em uma redação. mas dele eu me lembro claramente do primeiro dia de aula do meu terceiro ano, quando ele adentrou a sala e citou uma frase de Aristóteles, e fui atrás dela pois acho que ela pode retratar um pouco o meu sentimento...


"Felicidade é ter algo o que fazer, ter algo o que amar e algo que esperar..."
Aristoteles

domingo, fevereiro 01, 2009

"O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas."

Friedrich Nietzsche (retirado do livro "Humano, demasiado humano")

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Algumas análises

CIGARRO

"O cigarro (do espanhol cigarro) é uma pequena porção de tabaco (ou fumo) seco e picado, enrolado em papel (mortalha) fino ou em palha de milho (cigarro de palha), para se fumar, sendo que o primeiro é industrializado e o segundo, manufaturado."

Doenças associadas ao tabagismo incluem:

§  Várias formas de câncer, particularmente câncer de pulmão, câncer dos rins, da laringe, Cabeça, pescoço, mamas, bexigaesôfagopâncreas e estômago.. Há evidências de risco aumentado de leucemiacâncer de pelefígadocolo uterinointestinosVesícula biliaradrenal, além de correlação com tumores infantis.

§  Doenças Cardio-vasculares;

§  Acidentes vasculares cerebrais;

§  Doença vascular periférica;

§  Distúrbios respiratórios, como bronquiteDoença pulmonar obstrutiva crônica e enfisema;

§  Tromboangeite obliterante;

§  Impotência sexual;

§  Catarata;

§  Redução da memória e dificuldade de aprendizado em tabagistas adolescentes.

 

CAFÉ

"O café é uma bebida produzida a partir dos grãos torrados do fruto do cafeeiro. É servido tradicionalmente quente, mas também pode ser consumido gelado. O café é um estimulante, por possuir cafeína — geralmente 80 a 140 mg para cada 207 mL dependendo do método de preparação."

Os malefícios causados pelo consumo excessivo de café podemos listar:

§  Ação diurética compulsivo causadora de perda de minerais e oligoelementos, aminoácidos e vitaminas essenciais.

§  Causa enfraquecimento do organismo através da perda de sódio, potássio, cálcio, zinco, magnésio, vitaminas A e C, bem como do complexo B.

§  Possui relação direta com a doença fibroquística (eventualmente percursora do “cancer da mama”).

§  Pode causar o aparecimento de polipos (primeiro estágio do cancer no aparelho digestivo), verrugas, psoríases e outras afecções dermatológicas.

§  Reduz a taxa de oxigenação dos neurônios.

§  Provoca uma maior secreção de ácido clorídico, causando irritações nas mucosas intestinais que causam colitese ulcerações, principalmente para quem sofre de gastrite.

§  Sua ação é acidificante do sangue, propiciando o surgimento de leucorreias, cistites, colibaciloses e variados acessos fúngicos.

 

VÍCIO

"Vício (do latim "vitium", que significa "falha ou defeito") é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. O termo também é utilizado de forma amena, muitas vezes deixando um índice de sua acepção completa."

 

Será que um dia consigo deixar de me entregar a eles, assim me livrando desses vícios???

 

sábado, janeiro 24, 2009

"Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer .... mas acha que devia querer outra coisa."


Mário Prata


domingo, janeiro 11, 2009

Infelizmente nao era pra ser uma noite ruim....

Quanto mais desejamos, mais nos distanciamos dele... Aqui estou novamente com meu surto de insonia, somado ao calor, pesadelos e a um refluxo que nao me deixa em paz... Resolvi entao sentar de frente a um computador e tentar escrever algo para ver se o tempo passa e o so nasce... Mas infelizmente o tempo reluta contra mim e ainda sao 4:00 da mahã... Mas como na minha mente nao me vem nada de interessante, vou tentar retratar o pesadelo que me trouxe a esse estado...
" Ruas estranhas e enevoadas cobertas de paralelepipdos servem de caminhos para um quadro que a cada passo se tormna mais decadente e bizarro... As pessoas parecem apagadas e sem vidas e as cores das roupas tambem, tornando as presenças mais sem graça ainda. As crianças usando roupas tipicas de livros de moral e cívica sem o minimo brilho nos olhos perambulando como zumbis, sem nenhum rumo certo... Aonde estou eu nao sei, e quando tento perguntar a alguem apenas o silencio me é dado como resposta... Ainda caminhando mais a frente olho um conjunto de predios que lembram armazens, com portas quebradas, paredes sujas e uma grande quantidade de pessoas dessas sem brilhos nos olhos entrando e saindo, carregando sacos de papael cheios parecido com aqueles de mercados de filmes da decada de 50. Cada vez que me aproximo um cheiro de sague seco e coisas podres invadem meu olfato e quando olho para o interior do armazem pilhas e mais pilhas de pedaços de gente e legumes e frutas tudo em decomposição sendo oferecido ao moradores da cidade, que nao fazem a minima cerimonia e enchem os sacos com o que podem voltando para casa.
A cena me dá uma certa ansia de vomito e me afasto cambaleante ate me recostar em um muro de pedra alto. E enquanto recupero o folego obesevo que nao se trata de uma consturção comum, mas sim de uma fronteira entre o essa cidade e o mundo externo. Corro por muito tempo e nada de encontrar uma grade, porta ou saida desse lugar... E quando desisto e me sento ao chão escuto um sino badalar ao longe e mais que depressa corro para a direçao do barulho e apos algumas horas de correria chego a uma praça, onde ao centro a apenas uma estrutura de suporte do sino e uma das crianças esta pendurada na corda fazendo o contra peso para que ele toque. Nessa hora começo as pessoas se aproximandovagarosamente vindo de todas as direçoes... O sino para de badalar e nesse momento todos pulam em minha direçao arrancando pedaços de mim... A cada mordida eu sinto uma dor aguda... Ate que em fim... Eu ACORDO!"

segunda-feira, janeiro 05, 2009

sábado, janeiro 03, 2009

Conto

Hell's angels

Márcia Denser

Os olhos têm aquela expressão vazada de maldade inocente, de suprema condescendência, como dos ídolos talhados em ouro e prata à luz das tochas, indiferentes às cerimônias e ao borbulhar das paixões e sacrifícios humanos; a macia pele do rosto de dezenove anos incompletos transparece e crepita, mas não se deixa tocar e, se o faz, o seu tato é de borracha ou vinil, porque os jovens de dezenove anos incompletos são pequenas monstruosidades portadoras do aleijão psíquico, faltando pedaços como um ombro para se chorar, um olhar atento, o gesto brusco no vácuo do antebraço consolador; os lábios congelados na frase de Peter Pan "eu sou a juventude eterna!”, a mão perpetuamente brandindo a estocada final na passagem do tempo. Um adolescente é sempre monstruoso porque desumano, assim como um deus, assim como um anjo, assim como você, Robi. Eu o conheci precisamente no dia que completava trinta anos, dirigindo amargurada meu automóvel para o analista. Pensava: o Superman também tem trinta anos — mas o fato é que ele não existe, eu sim, e muito passageiramente, pelo visto. Fisgava-me freqüentemente refletindo sobre a minha transitoriedade e a imutabilidade da natureza. Esse mesmo céu, esse mesmo crepúsculo, essa mesma intensidade de tons avermelhados e laranja que contemplei aos quinze anos, estão agora testemunhando meus trinta, inalterados, imperturbáveis, tão odiosamente imutáveis, mas, se ter consciência disso é o preço da mortalidade, eu prefiro pagá-lo a permanecer nesse estado bestialício de eternidade inanimada como as areias, os corvos, o crepúsculo, as montanhas e o mais. O que não deixa de ser putamente injusto, prosseguia pensando, quando o ronco de uma motocicleta ao lado do automóvel sobrepujou a música em FM como também os pensamentos acima descritos, além de todo o resto, o que acabou por irritar-me. Havia esquecido que deixara o vestido levantar exibindo as coxas, daí Robi, o motoqueiro, aparecer na minha janela, caninos pingando sangue. Por segundos, foi como se estivesse me vendo lá fora, do outro lado da juventude, há dez, doze anos atrás, o sorriso entre tímido e malicioso, olhos irrequietos, inseguros, lábios naturalmente úmidos, cabelos emaranhados e elétricos como filamentos de cobre molhado e, Deus meu, que beleza! Quando desviei o rosto tinha envelhecido o suficiente a ponto de fixar os olhos embaçados nos ponteiros luminosos mas, empurrando a dor para baixo, sete palmos no inconsciente, senti só irritação pela intromissão do rapazinho que perturbava meus pensamentos, minha solidão, minha maturidade, espiando, sem mais nem menos, para dentro do carro, com a mesma sem cerimônia que um bebê, escondido debaixo da mesa, espiaria as calcinhas das senhoras. Devo acrescentar que, dentro de um automóvel, sinto-me tão absolutamente só e segura como no ventre materno e, além do mais, não havia notado as coxas. A bem da verdade, fiz tudo para livrar-me dele, mas o destino conspirou: Destino I: Motoca seguiu-me até vaga da zona azul e, após observar divertido cerca de dezoito manobras humilhantes e mal sucedidas, ofereceu-se para estacionar o automóvel de madame: Destino II: Acertou na primeira (não que fosse muito bom, ruim sou eu, especialmente se observada por crianças. Elas me põem nervosa). Destino III: Obrigada / Você tem telefone? / Não me importa nem um pouco deixar que os homens fa... / Estou sem lápis / Mas quantos anos você tem? / Oitenta e cinco. Tem caneta? / Não saberia exatamente o que fazer com você / (Risinho pilantra, procura pedaço de papel na carteira) / 62-3145. Tchau, tenho hora no médico / Médico? / Analista / Pra quê o psiquiatra, garota? / Analista / É. Analista / Demora pra explicar / Eu telefono / Então telefona / Meu nome é Robi / Wood? / O quê? / O meu é Diana. Tchau. O tempo fluiu (como sempre) . Passaram-se duas semanas. Não paro em casa, mas o garoto tinha um faro diabólico. Sempre me pegava nos intervalos da muda de roupa, banho, jantar e outra escapada. Enquanto isso eu: a) estava sendo perseguida por um cineasta maldito; b) batia cartas comerciais; c) fazia um tratamento dentário intensivo; d) chateava-me com os amigos no bar; e) ou seja, merdava. Certa tarde, final de expediente no escritório, eis Robi que surge ao lado da minha escrivaninha: vamos sair? Caninos pingando sangue. Sem saber como, ele vencera as estruturas de aço da burocracia e, munido de crachás, credenciais de apoio e um sorriso tentador, me apanhara sobre uma IBM, dois diretores afoitos e quarenta e cinco atentos funcionários entrincheirados na vastidão do expediente. Como se eu não tivesse coisa melhor a fazer no mundo que sair com ele. E não mesmo. Para mim a situação se afiguraria esmagadora, mas Robi era um caçador nato. De toda uma vasta multidão de admiradores, ele se destacara surpreendendo-me na minha própria cidadela. Ele, Robi, o motoqueiro. Era incrível. — Sente-se, sorri divertida, já termino essa carta. Mas meus dedos tremiam. Cruzar ou não as pernas? Dirigir-me como agora ao meu ? e se ele dirigir-se à mim? Teria forças psicológicas para proceder aos processos e pareceres? Então era assim que eu sobrevivia? Aquele garoto de jeans, blusão de couro e botas de montaria, sentado displicente numa das poltronas da sala de espera, transformara-se no meu inquisidor, meu juiz de alçada, meu anjo vermelho, Lúcifer, o decaído, piscando de sua torre flamejante, reduzindo a cinzas e ao ridículo aquele santuário simétrico da burocracia. E não tinha consciência disso. Tanto melhor. Consciência tenho eu, por isso as coisas dão no que dão. Ficam mal paradas. A evidente oposição do garoto ao ambiente produzia-se como um fenômeno natural. Bastaria que ele (ou nós) acordássemos para que o encanto fosse desfeito. E as oposições são tão tentadoras , tão novela das oito, que eu já andava ansiando por uma paixão lamacenta. Na verdade, estava me atirando dentro dela. Com maiô executivo e tudo. Saímos. No meu carro porque a moto estava quebrada. A princípio eu o fitava como se estivesse observando um formigueiro: com .curiosidade cientifica, ócio e nenhuma emoção. Puro divertimento. Dentes um tanto amarelados (feitos de doce de leite, desses com vaquinha no rótulo); olhos que jamais se fixavam no interlocutor, uma aflição mal disfarçada pelo paradeiro que dar às mãos, o crânio ligeiramente achatado, mas ao contrário do achatamento produzido pelo fórceps, bebê Robi parecia ter sido retirado da mamãe com uma forminha de tostex, Deus me perdoe, mas era só um defeitinho à toa; um belo nariz e um bom corte de cabelo, em camadas. Como James Dean, comparei mentalmente. Mas só mentalmente, não verbalizaria a comparação. Talvez ele não conhecesse James Dean. Talvez me achasse velha demais ao compará-lo a alguém antigo como James Dean. Imagino o que pensaria se exumasse coisas como George Raft ou Johnny Weismüller, tango, Tarzã, bolero e Gilda! Mudando um pouco de assunto, estávamos num bar. Eu bebia vodca com suco de laranja, ele coca-cola. O problema não era propriamente a bebida, mas sim a falta de grana, explicou. A gente acostuma a não beber e também não fumar, vive-se de hamburgers e chiclete, é isso. Classe média alta paulistana, Robi estudava bastante, o colégio era um bocado puxado, tinha papai, mamãe, uma governanta romena (babá, neném) e só pensava em duas coisas: garotas e moto. E isso quer dizer que não pensava. Devaneava. Flutuava. Flanava. Fluía. Ele simplesmente existia! A frase de Nelson Rodrigues "toda mulher devia amar um menino de 17 anos" furou-me o ventre e atingiu em cheio o, digamos, coração. Depois havia lido numa revista feminina que o homem atinge sua potência máxima dos 13 aos 22 anos. Robi, com 19, estava na faixa. Ótimo. O problema nessa idade é que se pensa tanto em sexo que na hora de fazer quedamo-nos psicologicamente impotentes, em pânico. A realidade é tão besta comparada à fantasia, àquele ser esplendido que julgamos ser. Dos 13 aos 22 anos fazemos portanto muita ginástica. Física e mental. Mas nunca em sincronia, eis a questão. Nunca estamos onde devíamos estar, nunca estamos em parte alguma. A eterna dicotomia corpo e alma. E falando em dicotomia, a razão dos meus devaneios, no momento, fazia observações, aliás muito interessantes, sobre a sua (dele) conceituação de bem e mal. Para ele não existia. Porque, veja, garota, o que é legal pra mim pode não ser pra você, tudo é relativo, aquele mendigo fodido ali na esquina pode estar muito mais numa boa que nós aqui bebendo, meu pai se acha muito certo quando dá esmolas ou vai à porcaria duma missa, mas o mendigo pega à grana e vai comprar cachaça e o padre vai gastar o dinheiro nas corridas de cavalo e todo mundo então fica muito feliz pensando estar certo, era só não pensar ,porra nenhuma ou até cometer um crime que ia ter um sujeito feliz, sei lá, vai que o cadáver tivesse inimigos ou você própria morresse de tesão por sangue, tudo é um jogo, garota, o cara dança se não souber jogar; quer dizer, dança como meu pai, puta babaca, ou o padre viciado ou o mendigo da esquina... Menos você, Robi, pensei, julgando-os todos. Arquivando-os, classificando-os para poder controlá-los, dominá-los senão você se perde na floresta e começa a chorar de medo, neném. Fazendo voltar o filme do tempo, vi-me a mim própria dizendo aquelas s coisas. Com aquele mesmo ar de rarefeito desprezo: Mas, o coração é um. caçador solitário, sentenciei emocionada, Carson MacCullers tinha razão, e Flanery 0'Connor e todas essas irlandesas e irlandeses passionais, e até Faulkner, Scott Fitzgerald, inclusive você Robi, que nada sabe de nada, também com seu tacape envenenado. Estávamos na época do Natal. Natal de 1976, amaldiçoado Natal fodido, mais precisamente no dia 22 de dezembro, sexta-feira, e Robi ,tinha um problema: a irmãzinha de quatro anos, faltava comprar o presente dela. Ele descobrira que Gugui (Maria Augusta) lhe daria umas luvas bacanérrimas de moto, tinham custado uma grana, garotinha genial a Gugui, ele precisava retribuir, saca? Não sabia com quê. Uma boneca, sugeri irrefletidamente. Ele fez cara de "não dá pra inventar um presente mais criativo?" Fosse então por isso, comecei a defender veementemente a idéia: porque uma boneca voltou a ser um presente criativo, porque é o sonho de toda garotinha, porque hoje em dia tem bonecas geniais, porque era um presente que a Gugui não esqueceria, porque eu ajudaria a escolher e porque e porque. E perguntei quanto ele tinha porque, além de tudo, uma boneca custa uma nota preta. Robi espiou a carteira: uma quina e dois duques. Setecentos, somei e traduzi mentalmente, deve dar. Mas a tal boneca custou. duas quinas que eu tive de ajudar a pagar. Enquanto ele pegava o dinheiro, meio sem jeito, eu argumentava: - Fica como um presente meu para a Gugui. Sem ela saber, claro. Papai Noel é invisível. E depois, até que eu gostaria de ter uma irmãzinha só para dar um presente como esse... Ele me olhou como quem diz "não faz média. Paga e pronto". O.K. Robi; neném, vou ser clara. Para falar a verdade não ligo a mínima pra dinheiro, mas esta noite eu acho que tenho de suborná-lo. A você e à sua juventude. Pensava tudo isso enquanto ele guiava sem destino (a boneca no banco de trás), perdidos no trânsito pesado daquela cidade cheia de luzes, vozes arranhando alto-falantes, sinos transistorizados de Belém, reflexos dourados, homens sanduíche, lixo, gritos de crianças ensandecidas pela Noite Feliz. E agora? O olhar dele desceu agudo, filhote de falcão da campina, sobre minhas pernas cruzadas. Senti-me desconfortável. Sugeri comermos. Ele disse está bem e eu olhei bem firme para frente. Não queria ver aqueles olhos, não queria ver aquele rosto, não queria ver aquela expressão especialmente perversa, infantilmente perversa, não queria me sentir velha demais, o outro lado do espelho desse rosto cuja expressão também já fora minha, e sabia, que ele pressentia haver algo errado comigo, essa minha pretensa segurança, pretensa maturidade, um vago movimento de mendicância, e que, por exemplo, nem ao menos eu gostava de mim, senão não prosseguiria por tempos imemoriais caçando aves implumes na orla do pântano. Se não estivesse ferida, estaria voando. Fomos a uma cantina italiana. Ou melhor, eu o levei a uma cantina italiana. Garçons amigos, contas penduradas, etc. A luz avermelhada das velas incidindo sobre o xadrez vermelhinho das toalhas e lambendo-lhe o rosto, Robi ficava com uma expressão solene, de coroinha. Mas não era bem assim, principezinho do ritual de iniciação. Ajeitei-me na cadeira, pedi mais vinho, segurei sua mão debaixo da mesa (ele não admitia demonstrações em público), apalpei suas pernas musculosas debaixo do grosso índigo blue, pedi-lhe para afastar as coxas, mergulhei a mão com segurança, fechei os olhos e pensei: Meu Deus. Retirei a mão, voltei ao vinho. Robi continuava sério, olhando além da janela, além dos queijos, dos salames, dos presuntos que oscilavam sobre sua cabeça. Como quem acompanha o vôo de uma mosca, foi descendo a vista e perguntou o que está olhando? Eu disse nada / me deixa encabulado / porque? / fica me olhando assim / assim como? — mordi os lábios, não confessar nunca! Nada. Não quer mais vinho? Estendeu o copo, enchi, sorrimos. Não gostaria de ir para outro lugar? Os olhos negros baixos no prato foram levantando lentamente, emergindo da sombra com macia ironia, mas o foco não subiu além dos meus lábios. bem. Apague a vela, neném. Sensivelmente alterada, informei-lhe que guiaria o automóvel. Não disse nada. Sentou ao meu lado num silêncio noturno de animal confiante. As ruas que percorremos estão na minha lembrança como um longo corredor recheado de espessa nebulosa cinza-chumbo varrida por vento escuro. De esquina em esquina, clarões e colares de luzes assaltavam a mente enevoada, mas, nem por isso, desviei-me do trajeto impresso em meu cérebro como uma fita gravada, alheia ao álcool, aos impulsos, à minha dor. Bati a porta do carro. Robi, do outro lado, hesitava, olhando o pacote, retângulo negro de estrelinhas prateadas sobre o banco traseiro. É só uma boneca, ninguém vai roubar, ela tem destinatário. Encarou-me magoado — "é só uma boneca" — mas eu já não estava pensando nisso. 0 quarto tinha um espelho redondo sobre a cama, e foi nele que eu e Robi nos vimos pela primeira vez. Aparentemente não havia nenhuma diferença: uma mulher de estatura média, cabelos castanhos sobre os ombros, rosto oval e pálido. Um homem, também de estatura mediana, cabelos, etc. Nada. Nenhum indício do buraco negro, o corte no tempo. Robi respirou fundo e agarrou-me por trás, grudando-se ao longo do corpo. Eu disse calma e ele me jogou no colchão como uma bola de pingue pongue. Oscilei umas duas vezes, o colchão gemeu dolorosamente. Deitou sobre mim, tentando desabotoar-me. Está perdendo tempo, eu disse levantando e me despindo. Cabeça pousada nas mãos, Robi sorria, preparando-se para assistir. Muito esperto. Despi-me rapidamente e fiquei olhando bem na cara dele. Pronto, eu disse, agora você. Desviou o rosto, sem graça. Com a mão esquerda foi tirando o blusão, a direita apagou a luz do teto, permanecendo apenas o foco avermelhado do abajur. Estava deitada, fumando, quando sua massa rija desabou sobre mim. Procurei seus lábios mas ele disse não, estou resfriado. Então. esperei. Você gosta assim? perguntou ajeitando-me de bruços. Abraçava-me com palmas e dedos gelados, comprimindo minhas costelas, machucando-as, em vez de acariciá-las. A coisa funciona só da cintura para baixo, como um vibrador elétrico, mas é bom, pensei, deixando-me penetrar rijamente pelas costas, usando, por assim dizer, só uma parte do meu corpo, como se o resto estivesse paralisado, ou morto, como se aqui ninguém suportasse um dramático relacionamento frontal, com beijos, orifícios, acidentes e cicatrizes, com um rosto, um nome, uma biografia. 0 prazer é bom, pensei, costuma ser forte, mesmo assim... Espiei Robi e seu desempenho: cabelos grudados na testa molhada, uma das sobrancelhas arqueadas de perversidade, lábios entreabertos para respirar, braços esticados, mantendo-me firmemente afastada de seu corpo para ver melhor. 0 que me chateia é esse distanciamento crítico, parece estar consertando a moto — essa máquina de prazer — está olhando a coisa funcionar, como seu próprio coração a bater fora do corpo, as engrenagens da máquina molhadas de suor e gosma orgânica, mais lento, mais acelerado, mais lento, agora rápido, acelere, mais rápido, mais rápido. Pronto. Terminou.Ouvi Robi ofegar. Continuei de costas. Estendi o braço e peguei um cigarro. A respiração agora era regular, pesada. Virei-me para olhá-lo: havia algo de comovedor — sempre há algo de comovedor — num jovem adormecido. Ficam tão desamparados. Braços estirados de sonâmbulo (os mesmos que me empurravam, potentes, há quinze minutos), mãos como dois pássaros gêmeos, aninhados, desvalidos, o sexo recolhido no meio das pernas, envolto em espumas de marés mortas, os músculos faciais desabados, descompostos, oferecendo-se e negando-se ao mesmo tempo, supremamente, a qualquer contato humano, fosse um soco ou um beijo, esse rosto inumano das crianças e dos deuses, esse destruidor florido por sobre quem paira agora essa atmosfera verde de piscina lunar salgada, esse vapor ardente e mortal, bafo primordial de mundos e canteiros de estrelas, de sentimentos em estado gasoso, sóis e planetas. Bem, pensei, é tarde. Vesti-me rapidamente, em silêncio. Fechei a porta sem ruído. Desci. O saguão deserto. Ao entrar no automóvel ,vi o pacote no banco de trás. Essa agora, pensei. Carreguei essa boneca tempo demais, as juntas dos dedos me doem, o barbante áspero imprimiu marcas profundas, roxas, em cruz, nas palmas feridas, o seu peso é insuportável. Reunindo minhas últimas forças, consegui tirá-la do carro e levá-la até a portaria do hotel. Um empregado sonolento atendeu-me: — É para o rapaz do 35. Acorde-o às seis e quarenta e entregue o presente. Com votos de Feliz Natal, pensei. Virei as costas e saí. Guiando de volta para casa, eu me intrigava porque havia mandado o sujeito acordá-lo às seis a quarenta, porque especificamente seis e quarenta? Anoto mentalmente: perguntar ao analista.